CBD no tratamento oncológico: médicos brasileiros publicam relato de caso inédito

Published On: 22/02/20195.6 min read

Os médicos brasileiros Paula Dall Stella, Marcos FL Docema, Marcos VC Maldaun, Olavo Feher e Carmen LP Lancelotti assinam um relato de caso inédito que apresenta o resultado clínico e radiológico de dois pacientes com glioma secundário de alto grau tratados com quimiorradiação, PCV e canabidiol (CBD). Diante dos resultados, foi levantada a hipótese que o CBD no tratamento neuro-oncológico pode ser capaz de melhorar a respostas à quimiorradiação, o que poderia afetar a sobrevivência.

O relato de caso descreveu dois pacientes com diagnóstico confirmado de gliomas de alto grau (grau III / IV), que, após ressecção subtotal, foram submetidos à quimiorradiação, seguida pelo PCV, um regime de múltiplas drogas (procarbazina, lomustina e vincristina) associado ao canabidiol via oral.

O estudo demonstra que ambos os pacientes apresentaram respostas clínicas e de imagem satisfatórias em avaliações periódicas ao associar o CBD no tratamento oncológico convencional.

Leia o estudo na íntegra.

Entrevista exclusiva

A Dra Paula Dall Stella*, co-autora do estudo, nos concedeu uma entrevista e enfatizou a importância de termos cada vez mais pesquisas sendo feitas e publicadas dentro e fora do Brasil.  

De onde partiu o estímulo para realizar o estudo?

Nós sabemos que o canabidiol tem propriedades anti-inflamatórias, anti-oxidantes, neuroprotetoras e antitumorais, além de não ter efeito intoxicante. E, diante dos estudos que já existem sobre as propriedades citadas, ficamos curiosos sobre os efeitos benéficos do canabidiol em relação à situação oncológica dos pacientes. Então nós resolvemos testar, na maior dose tolerada pelos pacientes, qual seria o resultado da combinação do canabidiol, via oral, junto com o tratamento convencional.

Por que o canabidiol?

A escolha do canabidiol se deve às suas ações anti-inflamatória, anti-oxidante, neuroprotetora e antitumoral. O canabidiol é um medicamento ansiolítico e antidepressivo que pode colaborar com os pacientes oncológicos, uma vez que existe uma tendência para que fiquem deprimidos e ansiosos durante o tratamento.

É importante citar que os pacientes também  fizeram uso de flores vaporizadas ricas em THC para o controle dos maiores efeitos colaterais da quimio e da radioterapia. Assim, foram diminuídos os sintomas de fadiga crônica, náuseas e vômitos.

Percebemos também que os pacientes não tiveram os efeitos colaterais ainda mais intensos como a queda de plaquetas, nefrotoxicidade, hepatotoxicidade e neurotoxicidade. E caso acontecessem essas respostas negativas, teríamos que interromper o tratamento.

O canabidiol via oral foi usado durante todo o processo e, inclusive, mantido após o tratamento convencional. Já as flores ricas em THC foram usadas somente no momento da quimioterapia para controlar os sintomas colaterais mais severos e difíceis de conter.

O que mais te impressionou nos resultados?

O primeiro processo do tratamento convencional pelo qual os pacientes são submetidos é a quimiorradiação – combinação da quimioterapia com a radioterapia. O segundo passo são seis ciclos de quimioterapia. Assim, o que impressionou nos resultados foi, de fato, a evolução clínica destes dois pacientes, que aliaram a quimiorradiação ao uso de canabinoides.

A partir do estudo, percebemos que os pacientes que fizeram a quimiorradiação combinada com canabinoides apresentaram uma performance clínica muito superior à que normalmente encontramos em pacientes que fazem apenas o tratamento convencional.

O desenvolvimento constatado foi muito superior ao que normalmente encontramos nessas fases do tratamento. O processo demanda muito do organismo desses pacientes, mas durante o tratamento associado ao canabidiol  eles se mantiveram ativos e foram capazes, inclusive, de praticar esportes.

Outro ponto que chama muito a atenção é a resposta radiológica precoce que esses dois pacientes apresentaram por fazerem o uso concomitante da quimio, da radio e do canabidiol. Ao acompanharmos os dois pacientes, pudemos provar radiologicamente uma situação chamada pseudoprogressão.

E o que significa essa pseudoprogressão?

Muitas vezes, a partir de análise de imagens de ressonância magnetica surge uma “área feia, alterada” no cérebro do paciente que, por vezes, confunde o radiologista e acaba sendo apontada como uma progressão.

No estudo, fizemos a avaliação do estado clínico dos pacientes junto a outros métodos de imagem e conseguimos provar que, na realidade, se tratava de uma falsa progressão, uma pseudoprogressão. Este foi um ponto positivo, pois essa pseudoprogressão indica uma resposta benéfica do organismo à combinação dos tratamentos.

Há ainda outra etapa a acompanhar com estes pacientes?

O estudo nos trouxe respostas muito positivas, contudo, ainda não identificamos se a associação de tratamentos pode estar influenciando a sobrevida dos pacientes. Mas, ao nos depararmos com tantas informações e respostas positivas, decidimos publicar o relato do caso para estimular que outros médicos façam novos estudos e acompanhamentos.

Por isso, reforçamos a importância de mais trabalhos e pesquisas que envolvam um maior número de pacientes. Estes relatos serão essenciais para entendermos se, de fato, isso impacta positivamente na sobrevida dos pacientes, que é o mais importante.


Dra Paula Dall Stella

(*) Sobre a Dra Paula Dall’Stella
Médica pós-graduada em neuro-oncologia, desde 2010 a Dra Paula atende pacientes com câncer e outras doenças crônicas. Em 2014 iniciou a prática da terapêutica canábica e é considerada pioneira no Brasil na prescrição e acompanhamento de pacientes em uso de cannabis medicinal. Desde então, promove eventos científicos, é figura de destaque em congressos nacionais e internacionais e participa ativamente de conferências relacionados ao tema. É membro da International Cannabinoid Research Society e da International Association for Cannabis as Medicine, além de fazer parte do comitê científico da Ama+me – Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal e Conselheira Técnica da plataforma Dr. Cannabis.


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