Viviane Sedola entrevista a Senadora Mara Gabrilli

Published On: 16/08/20197.1 min read

Viviane Sedola, CEO e Fundadora da Dr Cannabis, entrevistou a Senadora Mara Gabrilli sobre as discussões atuais sobre o uso médico da cannabis e os seus benefícios para milhares de pacientes.

 

Mara Gabrilli é Publicitária, psicóloga, foi secretária da Pessoa com Deficiência da Prefeitura da capital paulista, vereadora na Câmara Municipal de SP, e já foi Deputada Federal por dois mandatos. Em 2018, foi eleita para representar São Paulo no Senado Federal (mandato 2019-2026). Em 1994, Mara sofreu um acidente de automóvel que a deixou tetraplégica. Após sua recuperação, em 1997 começou sua trajetória em defesa das pessoas com deficiência, com o Instituto Mara Gabrilli. Desde 2005 desenvolve suas atividades e constrói sua carreira política.

Viviane Sedola: Mara Gabrilli, você como paciente e Senadora acabou se tornando uma figura central nas discussões sobre cannabis medicinal no Brasil. Por outro lado, sabemos que não há nenhum projeto de lei de sua autoria sobre o tema. Por qual motivo?

Mara Gabrilli: Para explicar é preciso voltar ao passado, quando eu comecei a atuar nessa área e fazer audiências públicas para debater o assunto. À época, a pedido de famílias, inclusive a da Anne Fischer – a primeira criança brasileira a conseguir autorização da Anvisa para importar o CBD -, o foco não era um Projeto de Lei, mas sim uma ação célere que atendesse a quem precisava importar a medicação. E uma proposição legislativa não era o meio para atender os pacientes naquela altura. Nosso ponto de partida foi a liberação da Anvisa para importar o canabidiol. 

NOSSO PONTO DE PARTIDA FOI A LIBERAÇÃO DA ANVISA PARA IMPORTAR O CANABIDIOL.

Entendo que agora estamos em outro patamar da discussão, buscando outras possibilidades que atendam a todos os pacientes. Sabemos que o custo para se importar a substância é alto e inviável para muitas famílias brasileiras. Não podemos também ignorar o fato de que esta questão, por mais avançada que esteja em outros países, no Brasil, o debate ainda é incipiente, se pensarmos no espectro da esfera pública.

O QUE SABEMOS É QUE O ACESSO TEM QUE EXISTIR PARA QUEM PRECISA. 

O que sabemos é que o acesso tem que existir para quem precisa. Agora, se isso será feito por meio da liberação do plantio, por exemplo, é algo a ser discutido para que encontremos a melhor forma de regulamentar e fiscalizar. E isso não necessariamente deve ser trabalhado por meio de um Projeto de Lei.

Meu trabalho, muito além de legislar, é encontrar caminhos e meios legais para ajudar as pessoas. Isso não anula, de forma alguma, uma futura proposição legislativa.

Viviane Sedola: Como seria a regulação ideal, do seu ponto de vista?

Mara Gabrilii: Regulamentar a produção de cannabis para fins medicinais e científicos no Brasil, como prevê a lei brasileira de drogas vigentes desde 2006. Essa legislação prevê que a União autorize o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de qualquer planta com esses fins, mediante fiscalização. E essa fiscalização é o que precisamos discutir para encontrar a melhor forma de efetivar.

E ESSA FISCALIZAÇÃO É O QUE PRECISAMOS DISCUTIR PARA ENCONTRAR A MELHOR FORMA DE EFETIVAR.

Neste momento, a Anvisa, dentro de sua competência, está promovendo essa regulamentação com uma proposta para registro e monitoramento de medicamentos produzidos à base da cannabis. Além de uma outra para o cultivo da planta por empresas farmacêuticas, única e exclusivamente para fins medicinais e científicos.

É importante dizer também que o uso terapêutico da Cannabis é amplamente reconhecido pela comunidade científica mundial e regulamentado em países como Canadá, Alemanha, Inglaterra, Austrália, Israel e Estados Unidos, entre outros. 

A DOR DE UM PACIENTE BRASILEIRO NÃO É DIFERENTE DA DOR DE UM PACIENTE NESSES PAÍSES.

A dor de um paciente brasileiro não é diferente da dor de um paciente nesses países, por isso não há justificativa para que os pacientes brasileiros não tenham acesso ao que há de mais seguro e eficaz para o tratamento de suas necessidades.

Viviane Sedola: Durante a reunião da CDH sobre Uso Medicinal da Cannabis notei uma frente contrária do Governo e de Senadores, mas não notei uma frente favorável organizada. Você percebe algum movimento favorável à regulação se formando no Congresso Nacional?

Mara Gabrilli: Claro! Percebo um movimento positivo há muito tempo. Até porque se este não existisse a própria Anvisa não teria liberado a importação do CBD e não estaria se movimentando para a regulamentação do plantio. Aliás, existe um movimento positivo não só no Congresso, mas na sociedade de maneira geral. O brasileiro é um povo empático, que se importa com o outro. Isso é nosso – mesmo que os tempos sejam de mais intolerância. 

QUEM SE MOSTRA CONTRA, POSSIVELMENTE, NÃO TEM INFORMAÇÃO SUFICIENTE PARA EMBASAR SUA OPINIÃO.

Quem se mostra contra, possivelmente, não tem informação suficiente para embasar sua opinião. Se ancora em achismos. Cabe a nós munirmos essas pessoas com a verdade e informação de qualidade. Isso nunca terá contraindicação. 

Viviane Sedola: Vamos falar da Mara paciente. Quando você começou a se tratar com cannabis medicinal? Como foi a sua adaptação e como é hoje o seu tratamento com CBD? Quais benefícios percebidos por você? Quais efeitos colaterais indesejados você notou?

Mara Gabrilli: Comecei a tomar o canabidiol há cerca de três anos e a adaptação aconteceu de maneira gradativa. Aos poucos, de acordo com as dosagens e conversando com o médico, vamos entendendo os sinais no corpo. 

PARA MIM, O CBD FUNCIONA COMO UM IMPULSIONADOR DE MOVIMENTOS, ALÉM DE DIMINUIR A ANSIEDADE.

Para mim, o CBD funciona como um impulsionador de movimentos, além de diminuir a ansiedade, melhorar a qualidade do sono e aumentar a disposição física e mental. Mas claro que cada óleo responde diferente para cada pessoa. 

É COMO QUALQUER OUTRO MEDICAMENTO.

É como qualquer outro medicamento. Nunca o remédio será o mesmo para cada indivíduo. Dependendo do óleo, no meu caso, pode causar enjoos e movimentos involuntários. É uma questão de adaptação individual mesmo.

Viviane Sedola: Você sofreu algum tipo de resistência ou preconceito ao buscar tratamento com cannabis? E na sua vida pública?

Mara Gabrilli: Nunca sofri preconceito ao buscar essa alternativa de tratamento. Já na esfera pública sabemos que há certa resistência por parte de poucos. Ela não representa a opinião do Congresso, nem mesmo do governo de fato – tendo em vista que o próprio Ministro da Saúde é favorável ao tratamento da cannabis para fins medicinais. Além disso, a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também se posicionou a favor.  

NÃO PODEMOS DIZER QUE O BRASIL É CONTRA A CANNABIS MEDICINAL PORQUE ALGUNS DESCONSTROEM O PAPEL BENÉFICO DA SUBSTÂNCIA E DISCURSAM CONTRA.

Viviane Sedola: Além de tudo, você tem forte atuação na defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Você acredita que a cannabis medicinal pode ou já vem beneficiando essa parcela da sociedade? Você recomendaria a outras pessoas com deficiência a buscarem orientação médica para a terapêutica canábica?

Mara Gabrilli: Com certeza! Principalmente para quem tem deficiências paralisantes e síndromes que causam convulsão e espasmos. Os efeitos dessa terapia em crianças com epilepsia, por exemplo, são inquestionáveis.

COM O USO DO CANABIDIOL, ANNY PASSOU A TER DUAS CRISES CONVULSIVAS POR MÊS. E ISSO É MUITO TRANSFORMADOR. É SINÔNIMO DE QUALIDADE DE VIDA. 

É cruel e desumano negar o acesso a pacientes como a Anny, que antes do CBD sofria de 30 a 80 convulsões por semana. Com o uso do canabidiol, Anny passou a ter duas crises convulsivas por mês. E isso é muito transformador. É sinônimo de qualidade de vida.


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Crédito da fotografia: André Oliveira