Cannabis e Pediatria: os benefícios dos canabinoides para crianças
A utilização de canabinoides em pacientes pediátricos é impulsionada principalmente pela busca de novas alternativas para tratar uma variedade de condições clínicas debilitantes, especialmente aquelas que, frequentemente, apresentam pouca ou nenhuma resposta aos tratamentos tradicionais.
Devido à crescente disponibilidade de pesquisas científicas e evidências clínicas, médicos, pais e cuidadores têm considerado cada vez mais os canabinoides como uma opção terapêutica promissora.
Esta matéria busca contextualizar a utilização de canabinoides em pediatria, abordando as principais condições médicas em que seu uso tem sido investigado, os desafios enfrentados pela comunidade médica e os caminhos futuros para uma abordagem segura e eficaz no tratamento de crianças e adolescentes.
Novas possibilidades: benefícios e eficácia dos canabinoides em Pediatria
Um dos aspectos mais notáveis e promissores da utilização da cannabis medicinal na pediatria está no tratamento de convulsões e epilepsia refratária em crianças.
Em casos envolvendo crianças com Síndrome de Dravet e Síndrome de Lennox-Gastaut, que são formas graves de epilepsia refratária, um estudo clínico revelou que o canabidiol (CBD) pode reduzir significativamente a frequência e a intensidade das crises convulsivas em pacientes pediátricos.
Outra área em que os canabinoides têm mostrado impacto positivo é no controle de sintomas em crianças com doenças oncológicas, uma vez que pacientes submetidos a tratamentos de quimioterapia frequentemente enfrentam efeitos colaterais desafiadores, como náuseas e vômitos intensos.
Nesse cenário, o uso medicinal da cannabis tem sido estudado como uma forma de aliviar esses desconfortos, proporcionando uma maior tolerância ao tratamento e uma melhora geral no bem-estar dos pacientes pediátricos em combate à doença.
Além do tratamento de convulsões, a cannabis medicinal também têm se mostrado relevante para o manejo de outras doenças neurológicas pediátricas. Em casos de paralisia cerebral, por exemplo, o CBD tem sido estudado como um possível recurso para o controle de espasticidade e melhorias na mobilidade dos pacientes.
Dessa forma, o uso dos canabinoides na pediatria pode representar um novo capítulo na história da medicina, proporcionando melhorias significativas na qualidade de vida das crianças e suas famílias.
Segurança e Efeitos Colaterais
Uma das principais preocupações sobre o uso de cannabis medicinal em crianças são os possíveis efeitos colaterais. Estudos têm mostrado que, embora o CBD seja geralmente bem tolerado, alguns pacientes podem apresentar sonolência, irritabilidade e alterações gastrointestinais.
Além disso, a interação dos canabinoides com outros medicamentos também é uma questão delicada a ser considerada, uma vez que podem influenciar o metabolismo de certos fármacos, alterando seus efeitos no organismo.
Embora os canabinoides demonstrem potencial terapêutico em diversas condições pediátricas, é crucial abordar com seriedade as preocupações e efeitos colaterais associados ao seu uso em crianças.
Canabinoides e Transtornos do Espectro Autista (TEA)
As pesquisas sobre o uso dos canabinoides, especialmente o CBD, para o tratamento de Transtornos do Espectro Autista (TEA) têm apresentado resultados promissores em relação aos benefícios para crianças com esse diagnóstico. Alguns dos potenciais benefícios da cannabis medicinal na pediatria canabinoide para o TEA incluem:
1. Redução de sintomas comportamentais
O uso de canabinoides pode estar associado à redução de sintomas comportamentais relacionados ao TEA, como agressividade, irritabilidade e comportamentos repetitivos. Alguns estudos relataram que o CBD pode ter efeitos calmantes e ansiolíticos, o que pode ajudar a melhorar o comportamento e a autorregulação em crianças com TEA.
2. Melhoria da comunicação e interação social
Outro benefício potencial dos canabinoides no tratamento do TEA é a melhoria da comunicação e interação social. Alguns pais e cuidadores relataram observar melhorias na capacidade de comunicação verbal e não verbal em crianças com TEA após o uso de CBD. Isso pode levar a um aumento da conexão emocional com outras pessoas e melhorar a qualidade de vida da criança.
3. Alívio de sintomas associados
Além dos sintomas comportamentais, os canabinoides podem ajudar a aliviar sintomas associados ao TEA, como ansiedade, problemas de sono e dificuldades gastrointestinais. Muitas crianças com TEA sofrem com problemas digestivos e distúrbios do sono, e o uso de canabinoides pode ser útil para mitigar esses desconfortos.
É importante, contudo, tem em mente que os canabinoides não são uma cura para o TEA, e os tratamentos devem ser abordados de forma individualizada, envolvendo uma equipe médica qualificada e os pais ou cuidadores da criança.
A decisão de utilizar canabinoides no tratamento do TEA deve ser tomada com base em orientações médicas e em uma avaliação cuidadosa dos potenciais benefícios e riscos para a criança.
Abordagens Terapêuticas com Canabinoides em Doenças Neurológicas Pediátricas
A cannabis medicinal também tem se destacado como uma abordagem terapêutica promissora para doenças neurológicas pediátricas, como a esclerose múltipla pediátrica, paralisia cerebral e distúrbios do movimento.
Em casos de esclerose múltipla pediátrica e doenças neuroimunes, por exemplo, estudos têm indicado que o CBD pode reduzir a inflamação neural e a atividade imunológica, contribuindo para o alívio dos sintomas e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes diagnosticados com a doença.
Além disso, condições como a encefalite autoimune, também têm sido objeto de investigações com canabinoides, revelando resultados positivos que instigam pesquisadores a continuarem explorando essa abordagem terapêutica.
Outra condição contemplada pelos benefícios dos canabinoides é a paralisia cerebral, que afeta a coordenação motora e a postura da criança, e cujo principal sintoma é a espasticidade, que causa rigidez e dificuldade nos movimentos.
Nesse contexto, o CBD pode ter efeitos positivos na redução da rigidez muscular e no aumento da mobilidade, proporcionando mais independência e conforto às crianças afetadas pela paralisia cerebral.
O uso medicinal da cannabis também pode ser uma possível opção terapêutica para distúrbios do movimento em crianças e jovens, como a distonia e a Coreia de Sydenham, uma vez que os canabinoides podem exercer um efeito modulador no sistema nervoso, controlando os circuitos responsáveis pelos movimentos.
O que diz a Sociedade Brasileira de Pediatria?
Em 2022, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) disponibilizou um manual de orientação com uma revisão baseada em evidências sobre o uso da Cannabis em pacientes pediátricos com transtornos do neurodesenvolvimento e/ou epilepsia.
Na conclusão do documento, a revisão enfatiza a importância de realizar mais estudos, com um maior número de participantes, a fim de estabelecer o papel da cannabis medicinal na prática pediátrica, bem como sua segurança e eficácia.
O documento ainda ressalta que as maiores evidências, até o momento, estão direcionadas para os benefícios dos canabinoides no tratamento de crianças e adolescentes com formas graves de epilepsia.
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Referências
Sociedade Brasileira de Pediatria. Indicações para uso da Cannabis em pacientes pediátricos: uma revisão baseada em evidências.
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