Como prescrever: Conselhos genéricos de prescrição de cannabis

Published On: 04/07/20194.9 min read

Eu, Dra Paula Dall’Stella, iniciei em 2014 o acompanhamento e assistência a pacientes em uso de cannabis medicinal. Isso me tornou uma das pioneiras na prescrição de cannabis para uso médico no Brasil.

Ressalto que o tratamento com cannabis medicinal é uma realidade em todo o mundo e também aqui no Brasil. São mais de 6 mil pacientes autorizados pela Anvisa para se tratarem com derivados da planta Cannabis Sativa no país. No campo profissional há cerca de mil médicos que reconhecem os benefícios terapêuticos e prescrevem a cannabis como aliada para o tratamento de diferentes condições clínicas.

Desde 2014, recebo muitas pessoas em meu consultório que querem se tratar com os medicamentos à base de cannabis. Também converso com muitos colegas médicos que desejam ingressar nesta prática terapêutica. As principais dúvidas dos dois públicos são sobre as substâncias utilizadas para o tratamento, a administração dos medicamentos e como prescrever.

Embora os extratos da cannabis contenham muitos ingredientes ativos, chamados fitocanabinoides, as evidências terapêuticas mais conhecidas e estudadas estão relacionadas aos canabinoides mais conhecidos: Canabidiol – CBD, com ação não-intoxicante, e o Tetrahidrocanabinol – THC, com ação intoxicante, isto é, causa alteração de percepção da realidade, associada a sintomas indesejados como taquicardia e hipotensão. 

Conselhos genéricos de prescrição e administração

Após muitas pesquisas, cursos e estudos, fiz um breve resumo e selecionei alguns conselhos genéricos de prescrição. Eles têm base na atual literatura científica e valores médios da população em geral. 

O uso da cannabis para fins médicos é seguro. O entendimento do sistema endocanabinoide é fundamental para melhor otimização do tratamento. Diversas alterações nesse sistema podem causar doenças e corrigi-las passa a ser fundamental. Isso pode envolver algumas tentativas e erros. Mas não se preocupe! Este é um tratamento seguro,  com relatos positivos feitos por milhares de pessoas. 

É importante iniciar o tratamento com uma dosagem preventiva. A terapia prolongada com baixas doses pode ser vantajosa para entender e manejar os sintomas crônicos ou para prevenir a recorrência da doença. A dose terapêutica real depende da pessoa e sua constituição genética, doença e via de administração. 

A dose ideal deve ser determinada pelo escalonamento das doses. Deve-se iniciar com doses baixas, analisar e acompanhar os sintomas referidos pelos pacientes. A dose deve ser ajustada de acordo com os efeitos desejados. 

É importante salientar que, muitas vezes, aumentar a dose não vai aumentar a resposta terapêutica. E pode acontecer de o paciente precisar trocar a medicação depois de algum tempo. Isso por que é bastante comum que alguns pacientes apresentem certa tolerância aos canabinoides, que pode reduzir a resposta terapêutica. As doses são individualizadas e podem, inclusive, mudar periodicamente. É comum o paciente, após algum tempo de tratamento, permanecer com os benefícios terapêuticos com doses menores.  

A melhor administração ou a dose ideal vão depender dos objetivos do tratamento. É necessário analisar cada caso e entender que a dose ideal é a menor dose possível com o maior benefício terapêutico. Muito cuidado com orientações como “inicie com uma gota”, principalmente quando não sabemos a que composição se refere essa dosagem.

Existem diferentes formas de administração destes extratos e substâncias para obter os efeitos desejados, como cápsulas em gel e cremes tópicos.

Na terapêutica canábica, a aplicação sublingual é a mais difundida devido a maior facilidade de absorção. Ela não passa pela metabolização hepática e também confere uma resposta mais rápida. As gotas são colocadas debaixo da língua e o extrato é absorvido pelas membranas mucosas da boca.

Em que momento usar? A otimização do uso terapêutico de cannabis pode implicar a utilização de produtos com diferentes relações e associações de CBD:THC em diferentes momentos do dia. Pode ser pela manhã ou à noite, a depender do produto e dos efeitos esperados.

Crianças e adultos metabolizam os extratos de maneira diferente. Pode parecer contra-intuitivo, mas crianças pequenas podem tolerar altas doses de concentrados de óleo de cannabis, incluindo fórmulas ricas em THC. Essa mesma situação pode representar uma dose alta para um adulto, portanto, não é uma boa ideia calcular a dosagem para uma criança com base no que funciona para um adulto.

Gestantes e lactantes não devem usar. Não há estudos que garantam o uso seguro de cannabis medicinal durante a gestação e lactação, sendo assim, o tratamento é contraindicado nesses períodos.


CBD no tratamento oncologico - Dra Paula Dall StellaSobre a Dra Paula Dall’Stella
Dra Paula Dall’Stella (CRM-SP: 128122) é especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem, pós graduada em Neuro-oncologia, trabalha com medicina funcional e é pioneira na prescrição de Cannabis medicinal no Brasil.

 

 

 


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