Enfermagem: a atuação do enfermeiro na terapia canabinoide

Published On: 11/05/20234.9 min read

A enfermagem vem cada vez mais se tornando um campo em crescimento no universo canábico. Afinal, falar sobre a cannabis medicinal como ferramenta terapêutica vai muito além da consulta e da prescrição médica. 

Contudo, embora regulamentada pela Anvisa e com diversos estudos disponíveis virtualmente, ainda existem muitos equívocos sobre o uso medicinal da planta, tanto para os profissionais da saúde, mas especialmente para os pacientes. 

Ao falar da jornada de um paciente em um novo tratamento, é imprescindível inserir o olhar do profissional da enfermagem, especificamente quando falamos da cannabis. 

Nesse sentido, além do apoio administrativo medicamentoso, o enfermeiro desempenha um papel fundamental na relação entre paciente e cannabis.

A seguir, entenda mais sobre a atuação do enfermeiro na terapia canabinoide e o que esperar deste profissional e do paciente no tratamento canábico.

Instrução canábica e cuidados de enfermagem 

O número de prescrições médicas de canabinoides teve um crescimento de 554% no Brasil. Do prisma de possíveis pacientes, 77% dos brasileiros afirmaram que usariam o tratamento com cannabis, se receitado por um médico.

Isso quer dizer que cada vez mais pacientes precisarão do suporte especializado no acompanhamento terapêutico canábico. Dessa forma, muito mais do que acompanhar, os enfermeiros precisam de informações práticas para cuidar do número crescente de pacientes que utilizam cannabis.

Além disso, os enfermeiros devem estar aptos a assistirem os pacientes sobre quaisquer implicações clínicas, possíveis interações medicamentosas de outros medicamentos e vias de administração.

Pensando nas lacunas da literatura sobre os cuidados de enfermagem a pacientes que usam cannabis medicinal, o National Council of State Boards of Nursing (Conselho Nacional de Conselhos Estaduais de Enfermagem, em tradução livre) estipulou seis princípios de conhecimento essencial sobre a planta para enfermeiros, que são:

  1. O profissional de enfermagem deve ter conhecimento prático do estado atual da legalização do uso medicinal e recreativo de cannabis.
  2. O profissional de enfermagem deve ter conhecimento prático do programa de cannabis medicinal na jurisdição.
  3. O profissional de enfermagem deve ter compreensão do sistema endocanabinóide, receptores canabinoides, canabinoides e as interações entre eles.
  4. O profissional de enfermagem deve ter compreensão da farmacologia da cannabis e de pesquisas associadas ao uso médico da planta.
  5. O profissional de enfermagem deve ser capaz de identificar as considerações de segurança para o uso de cannabis pelo paciente.
  6. O profissional de enfermagem deve abordar o paciente sem julgamento em relação à escolha do tratamento ou preferências no manejo da dor e outros sintomas.

Embora não seja necessariamente uma regulamentação, tal iniciativa é importante para se ter noção da dimensão que envolve a relação do enfermeiro não apenas com os pacientes, mas com a cannabis como ciência e lei.

Cuidado e segurança durante a jornada com a cannabis

Muito além dos cuidados técnicos, o enfermeiro desempenha ainda um papel essencial para o paciente em tratamento com a cannabis: o cuidado.

Como explica Marcella Tardeli, enfermeira e Head de Cuidado Coordenado na Cannect, assim como numa rotina hospitalar, o enfermeiro acaba ficando mais próximo no dia a dia do tratamento.

Isso implica muito mais do que planejamento, dosagem e avaliação de uso do medicamento, mas envolve também o acolhimento e apoio assistencial do paciente. 

“O que eu tenho ouvido dos próprios pacientes é que eles se sentem mais seguros e acolhidos nesse processo”, indica a enfermeira, que também é especialista em Oncologia e Cuidados Paliativos e Psico-sócio-oncologia. 

E o processo de tratamento é regado de dúvidas, inseguranças e até mesmo estigmas em torno da cannabis. Nesse contexto em especial, o enfermeiro torna-se um dos principais condutores no caminho do universo canábico.    

“A gente conversa com o paciente, tira dúvidas e desmistifica a cannabis para que ele compreenda o papel dela ali enquanto protagonista do ponto de vista do tratamento e para que ele chegue em uma consulta médica muito mais disponível para essa opção”, esclarece Marcella.

É a partir desse conhecimento com a medicina canábica que o enfermeiro se torna um dos principais suportes para o paciente, seja através do conhecimento próprio, seja fazendo link com outras especialidades, por exemplo.

Mais do que um tratamento, uma nova oportunidade 

Marcella frisa a importância desse suporte durante o processo terápico, uma vez que muitos pacientes já chegam ao tratamento bastante fragilizados em razão de tratamentos anteriores.

Ela ressalta que ter alguém ao lado do paciente, olhando-o de perto e entendendo sua experiência individual com a cannabis medicinal, pode o ajudar a se adequar melhor ao tratamento e, principalmente, a não se sentir no fim da linha, mas iniciando um tratamento com grande potencial de sucesso. 

Dessa maneira, além de oferecer apoio, o enfermeiro impulsiona o tratamento do paciente, onde a consequência disso se torna uma maior adesão clínica.

“Não é apenas um ‘eu apoio, te escuto e vai ficar tudo bem’, mas um ‘eu apoio, você adere e ao aderir, você vai ter mais qualidade de vida’”, finaliza Marcella.

Uma especialidade em desenvolvimento

Ainda que a demanda para a cannabis medicinal esteja crescendo exponencialmente, o assunto tradicionalmente não é abordado nas grades curriculares de enfermagem ou medicina.

Considerando toda a jornada de tratamento canábico, a Dr. Cannabis criou o Cannabis Medicinal do Zero: Enfermeiros, voltado para enfermeiros, técnicos e estudantes de enfermagem interessados em ampliar seus conhecimentos sobre a cannabis medicinal.

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